O ministro José Gomes Temporão (Saúde) disse hoje que a discussão sobre a legalização do aborto no país vem sendo conduzida de forma machista, uma vez que "as leis, normas e julgamentos" sobre o tema são feitos por homens. Segundo Temporão, o aborto deve ser tratado como uma questão de saúde pública, sem a influência de aspectos religiosos, filosóficos, éticos ou fundamentalistas.
"Tem um viés machista nessa discussão. As mulheres têm que falar, ser ouvidas, e não apenas os homens. As mulheres na maioria das vezes se vêem sozinhas num momento como esse. Infelizmente, os homens não engravidam. Se engravidassem, essa questão já estaria resolvida há muito tempo", disse.
Temporão afirmou que, pessoalmente, não tem posição formada sobre a legalização do aborto. Mas como ministro, avalia que a prática se tornou um problema de saúde pública. "O assunto está saindo da polêmica. O governo não tem posição fechada sobre isso [aborto], mas hoje temos posição fechada do governo de que esse é um problema de saúde pública", afirmou.
O ministro evitou comentar a declaração do papa Bento 16 de que políticos católicos que defendem o aborto devem ser excomungados pela Igreja Católica. "Sou de formação católica sólida. Isso é uma questão de fé de cada um. O Brasil é um país, aliás, de muita liberdade de expressão religiosa, uma marca da sociedade brasileira", disse.
Segundo o ministro, pelo menos 250 mil mulheres que praticaram abortos ilegais no ano passado procuraram o SUS (Sistema Único de Saúde) para atendimento médico. Temporão disse que, oficialmente, são realizados 2.000 abortos legais por ano no país. O ministro ressaltou, no entanto, que dados de uma ONG (organização não-governamental) norte-americana mostram que são realizados 1,1 milhão de abortos clandestinos no país por ano. "Mas eu multiplicaria esses números por cinco", afirmou.
Mesmo sem revelar sua posição pessoal sobre o aborto, o ministro disse que os países que legalizaram a prática reduziram o número de abortos de forma drástica. "As discussões no campo da filosofia, ética, religião no campo moral são legítimas, mas o ministro tem que estar focado no campo da saúde pública. Então, temos que estar preocupados da mesma maneira que o presidente Lula colocou, de que esse é um problema de saúde pública", encerrou.
Publicidade GABRIELA GUERREIRO da Folha Online, em Brasília
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