Texto publicano na revista METRÓPOLE - Edição n°1-Salvador-Bahia
RESPEITEM A MULHER
Tom Tavares
Uma vez mais, o tema vem à tona, ocupando espaço nos jornais, nos noticiários das emissoras de rádio e tv. E se destaca, mais ainda, pelo emprego da perguntinha equivocada: "Você é contra ou a favor do aborto?" Ora, quer coisa mais estúpida que esta pergunta? Será que existe alguém no mundo "a favor do aborto"?! Eu, particularmente, não sou a favor. Sim, sou contra o aborto como também sou contra qualquer tipo de cirurgia, qualquer incisão. Aliás, eu até reajo contra a aplicação de injeção, procedimento que considero dos mais primitivos. Vejo autoridades religiosas, governantes, oposicionistas, todos abrindo o verbo, arrotando autoridade para falar sobre o assunto. Os tais religiosos, pra variar, tratam tudo como se tudo fosse propriedade de um certo "Deus", cuja existência, até hoje, sequer se comprova. Já os governantes afirmam que o caso é de "saúde pública". Há, também, um histérico grupo que se diz "em defesa da vida" externando a velha, falsa e hipócrita presunção de possuir delegação para ditar normas comportamentais. E a turba insana se completa com um Zé Mané qualquer filosofando barato, montado em frases de efeito e preso ao raciocínio de uma parcela da sociedade saudosa dos períodos autoritários. Em outras palavras, todos eles se imaginam no direito de determinar como a mulher deve se comportar com relação a algo que, em resumo, ocupa espaço no corpo desta mesma mulher. Destaque-se, mais ainda, que, como proliferam e infestam os ares as emissoras de rádio e tv compradas por ruidosos e retrógrados religiosos, o espaço dado àqueles que condenam a prática do aborto à marginalidade é bem maior que o reservado às pessoas que verdadeiramente deveriam ser chamadas a opinar sobre o assunto: as mulheres, claro. Aliás, a impressão que passa esta tropa é que à mulher não se pergunta. À mulher se determina, como em priscas eras, quando o seu papel social restringia-se à procriação. A opção pelo aborto, a meu ver, está acima dos ditames religiosos e também vai muito além de ser, pura e simplesmente, uma "questão de saúde pública". Essa gente precisa saber que o mundo mudou, evoluiu. O modelo de convivência pacífica entre as pessoas está , cada vez mais, assentado no respeito à individualidade. Sem ela, não tem acordo. Assim como o estado não tem autoridade para intervir no corpo de qualquer um de nós, aos religiosos resta que cuidem das suas almas, pois, se há uma coisa da qual eles ou não entendem ou abominam é o corpo. Haja rejeição! Como disse, não faço apologia ao aborto mas, defendo, na mulher, o direito inalienável à decisão sobre o que ela deve portar, deve conter. E, se ela não quer carregar - seja o que for - dentro dela ou sobre ela, então, tem que ser respeitada em sua decisão.
O resto é machismo e dogmatismo: ambos abomináveis.
Esta mensagem foi verificada contra riscos de segurança conforme política da PRODEB
Nenhum comentário:
Postar um comentário