
Papagaio de todo telejornal.
Eu acredito
na imparcialidade da revista semanal.
Sou classe média,
Compro roupa e gasolina no cartão;
Odeio “coletivos”
E vou de carro que comprei a prestação.
Só pago impostos,
Estou sempre no limite do meu cheque especial;
Eu viajo pouco,
No máximo um pacote CVC tri-anual.
Mas eu “tô nem aí”
Se o traficante é quem manda na favela.
Eu não “tô nem aqui”
Se morre gente ou tem enchente em Itaquera.
Eu quero é que se exploda a periferia toda.
Mas fico indignado com o Estado
Quando sou incomodado
Pelo pedinte esfomeado
Que me estende a mão;
O pára-brisa ensaboado;
É camelô, biju com bala
E as peripécias do artista
Malabarista do farol.
Mas, se o assalto é em “Moema”,
O assassinato é nos Jardins
E a filha do executivo
É estuprada até o fim,
Aí a mídia manifesta
A sua opinião regressa
De implantar pena de morte
Ou reduzir a idade penal.
E eu que sou bem informado
Concordo e faço passeata
Enquanto aumento a audiência
E a tiragem do jornal.
Porque eu não “tô nem aí”
Se o traficante é quem manda na favela.
Eu não “tô nem aqui”
Se morre gente ou tem enchente em Itaquera.
Eu quero é que se exploda a periferia toda.
Toda tragédia só me importa
Quando bate em minha porta,
Porque é mais fácil condenar
Quem já tem pena de vida.
Sou classe média...
(Max Gonzaga)
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