(assisti essa peça com Dani e outros amigos semana passada... acho que ela soube expressar muito bem tudo o que vivenciamos...)
vi ou revi, não lembro bem, esses dias a peça "navalha na carne" do maldito plínio marcos, dramaturgo que tão bem soube expor a miséria humana.
dentro do teatro, espaço experiemental, tudo se confundia: platéia, cenário e atores. linguagem e cena andam coladas e refletem o espectro violento do submundo do capital. há uma densidade e peso no ar, no palco, nos personagens. há uma apreensão-tensão na platéia. não há pó compacto que esconda o real, ele se impõe, interpõe, de forma nua e crua.
mas, há uma pergunta que não quer calar: será que somos gente? feita logo no início pela prostituta neusa sueli. a peça é a história de três personagens num quarto de bordel: a prostituta neusa sueli, o gigolô vado e o homossexual veludo que falam de suas vidas e expõem sua marginalidade.
todos os personagens encarnam a marginalidade humana vivida na sociedade da mercadoria, onde a pergunta de neusa é o mote para pensarmos, e acho que é isso que plínio nos quer provocar, como nossas relações são fetichizadas e coisificadas.
isso feito em 1967 é absurdamente atual e reflete as relações de poder, aliás muito presente nos diálogos e gestos dos personagens. é possível dizer que plínio marcos é atemporal, com seu tridente nos cutucando sem parar. a busca do controle, do domínio e, portanto, do poder, um sobre o outro, reflete toda a violência existente nessa sociedade que subsume e expropria toda uma humanidade de seus significados, produzindo subjetividades degoladas.
os personagens limitam-se a travar uma luta entre eles, não conseguindo perceber, pelo limite de suas consciências, que podem se unir para enfrentar a situação e as condições que os oprime e explora.
há, um outro elemento que me chamou atenção: os gestos, os suspiros, o olhar, os sonhos tímidos balbuciados por neusa sueli. emblematicamente poético, os que têm fome, e neusa na sua simples e parca existência se sente incomodada em permanecer objeto-mercadoria, nessa sociedade objetal. é a crueza refinada do capitalismo.
mas, a velha prostituta, ainda ousa sonhar com humanidades e bater todos os dias em nossa porta ainda com aquela pergunta crucial: será que somos gente?
dani (em órbita)
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