
Curitiba (PR) é um ponto insignificante no mapa do país. Mas, no dia 1º de setembro, uma linha invisível ligou esse ponto minúsculo com outros tantos nomes no mapa: Parauapebas, no Pará, Itabira, em Minas Gerais, Mossoró, no Rio Grande do Norte, Itaqui, no Maranhão, nestes e noutros tantos lugares pessoas se mobilizaram, com seus poucos braços e recursos, em torno da campanha A Vale é Nossa.
É o terceiro exercício de democracia direta. O primeiro foi sobre o não pagamento da dívida, o segundo sobre a Área de Livre Comércio das Américas (Alca). A votação não ficou centralizada e, em muitos casos, a consulta à população foi feita pelo próprio povo, no caso dos comitês locais da campanha.
Desta vez, o plebiscito popular trazia quatro perguntas: sobre a nulidade do leilão da Companhia Vale do Rio Doce – controlada pelo banco Bradesco – o não pagamento da dívida pública interna, os altos custos da tarifa de energia, a reforma da previdência e o direito dos trabalhadores.
Conforme perguntavam e caminhavam, o gesto se ampliava. Em Teresina, capital do Piauí, desde o lançamento do plebiscito o comitê estadual organizou uma força tarefa de 30 equipes para debater a campanha nos colégios. O multirão foi puxado pela juventude. Ao todo, cerca de 90 urnas foram espalhadas pela capital do estado e a votação acontece em cidades importantes como Picos, Floriano, São Raimundo Nonato, etc.
“Foi um multirão em torno de uma causa, animando grupos em torno de uma luta. Sem dúvida este plebiscito está articulando diferentes forças”, descreve o sindicalista Hildebrando da Cruz Reis, da Assembléia Popular.
Em Curitiba não foi muito diferente. O trabalho de conscientização realizado nos colégios usou o exemplo da Vale do Rio Doce como um pretexto para tratar de assuntos como o papel do Brasil no capitalismo global como fornecedor de matéria-primas, a militarização no continente, etc.
Mobilizar os jovens era o principal. Ou ao menos causar uma inquietação.
O comitê estadual, munido da urna móvel, esteve na Parada da Diversidade 2007, na luta contra a homofobia. Esteve na principal feira de artesanato da cidade, no Largo da Ordem. Escutou opiniões favoráveis, ouviu outras refratárias à retomada da Vale, de gente que dizia que “todo o patrimônio público deveria ser privatizado”.
Um final de semana foi pouco para dar conta das incursões pela cidade, madrugada adentro, para espalhar os símbolos da campanha. Um símbolo que também esteve presente em todo o país.
Em todo o país, o número de urnas saberemos apenas no final da contagem, no dia de setembro.
As conseqüências do trabalho das organizações, apenas mais para a frente.
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Itabira, em Minas Gerais, é a cidade berço das atividades da Vale do Rio Doce. A presença da produtora de minério de ferro na vida dos itabiranos é forte. Junto com a propagando oficial da Vale, a população fica dividida para o plebiscito, como explicou Felipe Benício Pedro, do Sindicato Metabase de Itabira, integrante da Conlutas.
“Há uma falsidade da empresa em relação a projetos sociais, pois a Vale afirma que apoiou a população. Mesmo assim ficou a sensação de indignação com a venda da Vale”, comenta. Na cidade berço também do poeta Carlos Drummond de Andrade, o comitê estadual preparou 100 urnas, 33 delas já foram disponibilizadas. Os principais locais de debate com a população são a praça central, o mercado municipal, a sede do sindicato metabase. Há uma urna em frente ao banco Bradesco, hoje um dos controladores administrativos da Vale do Rio Doce.
Notas.
A votação do terceiro plebiscito popular do país acontece em todos os 27 estados brasileiros. Integram a campanha mais de 60 entidades, entre movimentos sociais, pastorais da igreja, sindicatos, organizações, movimento estudantil. Fazem parte também indivíduos indignados com o leilão da Vale e advogados atuantes desde a venda da Vale.
A votação segue até o dia 07 de setembro - podendo estender-se até o dia 9.
Pedro Carrano, de Curitiba
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