Feira dominical no Passeio Público se firma como espaço de trocas dos mais curiosos objetos
Ciro Brigham
Não foi desta vez que a máscara do E.T. de Varginha e a revista manchete com Silvester Stallone e Cláudia Schiffer nus na capa mudaram de dono. A garrafa térmica azul e o chaveiro do ursinho Puff também voltaram para a mesma casa de onde vieram, diferentemente da velha lata vazia de biscoitos dinamarqueses, “vítima” de um escambo rápido e bem-sucedido. Diante das promessas de retorno à rede de trocas que anda a agitar as tardes de domingo no Passeio Público, no centro de Salvador, a esperança de cada objeto posto à prova é servir, por mais incrível e inusitado que pareça, ao propósito de alguém.
O Escambal, nome escolhido pelos freqüentadores da rede, se materializa numa pequena arena ao ar livre. Ali mesmo, onde uma moradora de rua hiberna com a cabeça recostada a sacos plásticos e onde estudantes de cadernos no colo e esferográficas em punho se reúnem num compêndio dominical. Da casa de um dos membros, em 2006, o evento assumiu proporções mais vigorosas e mudou de endereço. Mudou também, de freqüência: de uma vez por mês, para uma vez por semana.
“Aqui não tem moeda. A conversa é que tem valor”, inicia a professora e tradutora argentina Paola Arbiser, uma das mentoras da idéia. Chimarrão na mão, Paola defende a importância da atividade, argumentando que ninguém propõe uma troca se não souber que o outro está disposto. “Antes, as pessoas interessadas faziam trocas isoladas, porque não existia uma rede. Agora, temos tanto a possibilidade de dar vazão à troca de objetos e serviços como a chance de se encontrar, conversar e conhecer novas pessoas”, diz.
Ontem, Paola trocou um par de calças por dois CDs. Outro que “investiu” em música foi o empresário Humberto Miranda, 43 anos, que arrematou um DVD de Chico Buarque em troca de algumas cédulas de países insólitos (entre eles, Mianmar) e adesivos do Botafogo e do Boca Júniors. “Fiquei sabendo do Escambal através de um amigo, e como sou colecionador, fico sempre à procura de peças interessantes para meu futuro museu, além de fazer amizades”, coloca.
O estudante de Cinema Jorge Luiz, 23 anos, foi quem ficou com as cédulas e os adesivos de Miranda. “Venho desde o primeiro encontro. Como não tenho nada para fazer no domingo, apareço para trocar idéias e coisas”, confessa, antes de informar que permutou um DVD do Festival de Jazz de Montreaux, por um livro de sociologia da comunicação. Já o jornalista Marcos Rodrigues, 46 anos, se desfez de dois catálogos de arte em troca de uma dupla de bichinhos de pelúcia e uma peça de artesanato em forma de camelo, que ele acredita ser importada. “Sempre rola um bom negócio. E a graça está justamente em trocar poucas coisas de cada vez”, ensina.
Popularidade - Em julho passado, a feira se tornou internacional, com a realização de uma rodada de trocas na capital argentina, Buenos Aires. A turma já tem uma comunidade no site de relacionamentos Orkut (O Escambal) e e-mail para contatos (oescambal@gmail.com). CDs, revistas, roupas, livros, batom, brinco, colares, rodos e relógios, moedas antigas, adesivos e estatuetas. Vale tudo, porque sempre vale para alguém. Assim como a boa conversa ao pé das mangueiras, nada se joga fora no maravilhoso mundo do escambo.
Eis que de uma jurássica mala Samsonite surgem a lata de biscoitos e o pôster que um rapaz de chapéu-coco, meias coloridas, bermudão rajado e camisa verde-e-amarela assegurou nas trocas da tarde. Espécie de clone do ator Wagner Moura, a figura que diz se chamar simplesmente Tuti ocupa a semana de forma sui generis: vai à psicóloga às terças-feiras, bate fotos por aí e “mexe” com arte visual contemporânea. Aos domingos, é pipoca com leite condensado e escambo no Passeio Público. Enriquecida por figuras como essa é que a feira de trocas faz planos de expansão. Nada, porém, que cobre mais do que disponibilidade e interesse como investimento.
Ciro Brigham
Não foi desta vez que a máscara do E.T. de Varginha e a revista manchete com Silvester Stallone e Cláudia Schiffer nus na capa mudaram de dono. A garrafa térmica azul e o chaveiro do ursinho Puff também voltaram para a mesma casa de onde vieram, diferentemente da velha lata vazia de biscoitos dinamarqueses, “vítima” de um escambo rápido e bem-sucedido. Diante das promessas de retorno à rede de trocas que anda a agitar as tardes de domingo no Passeio Público, no centro de Salvador, a esperança de cada objeto posto à prova é servir, por mais incrível e inusitado que pareça, ao propósito de alguém.
O Escambal, nome escolhido pelos freqüentadores da rede, se materializa numa pequena arena ao ar livre. Ali mesmo, onde uma moradora de rua hiberna com a cabeça recostada a sacos plásticos e onde estudantes de cadernos no colo e esferográficas em punho se reúnem num compêndio dominical. Da casa de um dos membros, em 2006, o evento assumiu proporções mais vigorosas e mudou de endereço. Mudou também, de freqüência: de uma vez por mês, para uma vez por semana.
“Aqui não tem moeda. A conversa é que tem valor”, inicia a professora e tradutora argentina Paola Arbiser, uma das mentoras da idéia. Chimarrão na mão, Paola defende a importância da atividade, argumentando que ninguém propõe uma troca se não souber que o outro está disposto. “Antes, as pessoas interessadas faziam trocas isoladas, porque não existia uma rede. Agora, temos tanto a possibilidade de dar vazão à troca de objetos e serviços como a chance de se encontrar, conversar e conhecer novas pessoas”, diz.
Ontem, Paola trocou um par de calças por dois CDs. Outro que “investiu” em música foi o empresário Humberto Miranda, 43 anos, que arrematou um DVD de Chico Buarque em troca de algumas cédulas de países insólitos (entre eles, Mianmar) e adesivos do Botafogo e do Boca Júniors. “Fiquei sabendo do Escambal através de um amigo, e como sou colecionador, fico sempre à procura de peças interessantes para meu futuro museu, além de fazer amizades”, coloca.
O estudante de Cinema Jorge Luiz, 23 anos, foi quem ficou com as cédulas e os adesivos de Miranda. “Venho desde o primeiro encontro. Como não tenho nada para fazer no domingo, apareço para trocar idéias e coisas”, confessa, antes de informar que permutou um DVD do Festival de Jazz de Montreaux, por um livro de sociologia da comunicação. Já o jornalista Marcos Rodrigues, 46 anos, se desfez de dois catálogos de arte em troca de uma dupla de bichinhos de pelúcia e uma peça de artesanato em forma de camelo, que ele acredita ser importada. “Sempre rola um bom negócio. E a graça está justamente em trocar poucas coisas de cada vez”, ensina.
Popularidade - Em julho passado, a feira se tornou internacional, com a realização de uma rodada de trocas na capital argentina, Buenos Aires. A turma já tem uma comunidade no site de relacionamentos Orkut (O Escambal) e e-mail para contatos (oescambal@gmail.com). CDs, revistas, roupas, livros, batom, brinco, colares, rodos e relógios, moedas antigas, adesivos e estatuetas. Vale tudo, porque sempre vale para alguém. Assim como a boa conversa ao pé das mangueiras, nada se joga fora no maravilhoso mundo do escambo.
Eis que de uma jurássica mala Samsonite surgem a lata de biscoitos e o pôster que um rapaz de chapéu-coco, meias coloridas, bermudão rajado e camisa verde-e-amarela assegurou nas trocas da tarde. Espécie de clone do ator Wagner Moura, a figura que diz se chamar simplesmente Tuti ocupa a semana de forma sui generis: vai à psicóloga às terças-feiras, bate fotos por aí e “mexe” com arte visual contemporânea. Aos domingos, é pipoca com leite condensado e escambo no Passeio Público. Enriquecida por figuras como essa é que a feira de trocas faz planos de expansão. Nada, porém, que cobre mais do que disponibilidade e interesse como investimento.
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