terça-feira, 8 de março de 2011

O Mundo de Sophia

De cima das pontas dos pêlos de um coelho
Vejo um mundo que poucos conhecem
vejo, sinto, cheiro o novo
descubro todos os dias a vida
e me deixo ser descoberta

De cima das pontas finas dos pêlos de um coelho
Arregalo meus olhos para a explosão das cores
Abro meus dentes para a magia das estrelas
Respiro algo que não posso ver
Me encanto com o inexplicável

Amo

De cima das pontas desses pêlos brancos
Consigo me hipnotizar com as mágicas da natureza
Com os desenhos das asas de uma borboleta
Fico estática com a fragilidade e o poder das libélulas
Fico maravilhada com todo tipo de som

Ninguém conseguiria explicar o que significa
tocar e sentir a água
Ninguém saberia dizer como é a sensação de parir
Não saberíamos
E só nós (mulheres) poderemos sentir isso

Bem de cima dos pêlos de um coelho
Sinto meu coração disparar
Meus olhos explodir
Meu corpo treme ao sentir tudo que existe
Tudo o que é concreto, real...

É de cima deste coelho
que minha vida parece fazer algum sentido
E aquele branco que ofuscava a paisagem
Hoje me faz estremecer de medo
De pavor

Daqui do alto vejo uma multidão paciente
da cegueira
vejo tristeza, solidão, exploração, injustiça
vejo a miséria
É incrível! Como é possível sair água do mar de meus olhos?

Ao perceber meu povo
batendo com a cabeça em muros invisíveis
enlouqueço
grito, brigo, berro
pego em armas, se for preciso

Por mais um tempo contemplo a paisagem
De cima desse coelho não posso fazer nada
Preciso descer até a cegueira
Ajudar aos que ainda não alcançaram o alto (auto?)

Agora vejo mulheres de cabeça baixa
Homens com pesos nas costas
Crianças chorando
Velhos cansados
E jovens sem rumo

Temos que juntar força
Subir nas costas daqueles que já estiveram lá no alto
Carregar eles e os outros que ficaram pelo caminho
Precisamos subir para a ponta dos pêlos deste coelho
Precisamos ver as mágicas

Nem que para isso
Tenhamos que pelar o “filho da mãe” deste coelho!


Patrícia Ribeiro

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