terça-feira, 26 de agosto de 2008

As contradições do "jornalismo verdade" do Brasil

Reportagem do Jornal Nacional realizada em 15/08/08 sobre manifestação de jovens no Rio de Janeiro:


15/08/08 - 20h39 - Atualizado em 15/08/08 - 21h36
Manifestantes atacam consulado dos EUA no Rio

Jovens arremessaram tinta contra o consulado, no Centro do Rio. O protesto defendia os movimentos sociais e criticava a política econômica norte-americana.
Manifestantes atacaram o consulado dos Estados Unidos e prédios públicos, em um protesto em defesa dos movimentos sociais no Centro do Rio. Segundo a polícia, cerca de 500 pessoas participaram da manifestação. Cartazes foram colados nos prédios do Ministério da Educação e do Tribunal de Justiça do Rio. A polícia interveio e houve um princípio de tumulto. Em seguida, jovens arremessaram tinta contra o consulado norte-americano para protestar contra a política econômica dos Estados Unidos. Ninguém foi preso.


Fonte:
http://jornalnacional.globo.com/Telejornais/JN/0,,MUL725778-10406,00-MANIFESTANTES+ATACAM+CONSULADO+DOS+EUA+NO+RIO.html

Fazendo uma análise apenas como ouvinte passiva e sem nenhuma outra referência jornalística, poderia dizer que se trata de uma reportagem crítica, muito bem feita, sobre vandalismo de jovens desordeiros que geralmente vêem a público chamar a atenção, a qualquer custo, da mídia. Além disso, poderia observar que na reportagem também estava clara a ligação desses jovens com os “sem terras”, outro grupo de desocupados que só querem causar caos e tomar as terras dos inocentes e indefesos proprietários, agricultores e criadores de gado.

Porém, felizmente tenho a oportunidade de conhecer outros veículos de comunicação (por sinal, muito mais confiáveis que este; o qual desde sua fundação é dominado e direcionado pela elite). Meios de comunicação que proporcionam outra visão dos acontecimentos políticos e sociais, como por exemplo: a agência Brasil de Fato, Agência de notícias Chasque, Caros Amigos, entre outros.

Além de ter acesso a esses raros meios alternativos; posso, como conhecedora e protagonista da questão em pauta, afirmar que a manifestação - que obteve mais de mil jovens oriundos de 20 (vinte) estados do Brasil - teve como intenção, alertar a população sobre a mobilização para criminalização dos movimentos sociais que há décadas persistem na luta contra a desigualdade social gerada pelo sistema capitalista, o qual vem nos consumindo e consumindo o planeta desde o século 16 (ação intensificada a partir do século 18, com a revolução industrial).

Esta criminalização "atualmente" vem sendo realizada, de forma mais intensiva, a partir da parceria e articulações de “empresas de comunicação”, com o Poder Público Estadual do Rio Grande do Sul (representado pela governadora Yeda Crusius - PSDB), juntamente com os “protetores do ‘bem-estar’ e dos direitos da burguesia brasileira”: Força Militar.

Ao contrário do que foi divulgado nacionalmente pelo Jornal Nacional; os jovens (estudantes e não-estudantes do campo e da cidade) realizaram uma passeata pacífica, reivindicando (como o que consta em carta lida coletivamente em frente ao tribunal de justiça do Estado do Rio de Janeiro): a erradicação do analfabetismo; o acesso da classe trabalhadora à educação pública de qualidade; o fim do vestibular; a implementação de políticas de ações afirmativas e assistência estudantil; consequentemente o investimento do Estado em educação; a re-estatização da Vale, denunciando ao mesmo tempo seus crimes contra comunidades que vivem nas áreas de suas instalações; o fechamento da Base Americana de Guantánamo, instalada em Cuba; a liberação dos cinco patriotas cubanos presos ilegalmente nos Estados Unidos e a revogação da lei Segurança Nacional, criada pelo regime militar, que foi usada no Rio Grande do Sul para enquadrar trabalhadores rurais, que lutam pela reforma agrária.

Interessante! Nenhuma dessas pautas, lidas durante o ato por todos os jovens presentes, foi sequer mencionada por William Bonner durante sua fala. Ao contrário! Para dar um tom de “criminalização” ao ato, além de ressaltar apenas um detalhe de toda a manifestação (não por acaso, o momento onde passávamos por uma das instituições de um de seus "grandes" patrocinadores - o consulado dos EUA) com a chamada: "Manifestantes atacam consulado dos EUA no Rio" , ainda acrescenta ao fim de sua fala a ressalva encenada: “Ninguém foi preso!”.

Mas que merda em William? Como é que pode, né meu "querido"? Uma ação de desordem e vandalismo dessa natureza, e ninguém! Nem unzinho daqueles mil e duzentos jovens se quer foi preso? Pra quem sabe, pelo menos, contar pra gente a notícia da forma como ela de fato aconteceu, ou talvez, para no mínimo nos possibilitar um outro ponto de vista [que não o seu]. Já que a imparcialidade e a neutralidade (características de um jornalismo sério e de responsabilidade) são características inexistentes nos veículos de comunicação de massa existentes atualmente no Brasil (principalmente os que se referem a rede Globo).

Patrícia Ribeiro

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